quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não há espaço para tanta peculiaridade

Hoje, finalmente, tirei o plástico do meu livro de Matemática, e tenho, desde já, vários comentários a fazer. Começarei pela capa.


Capa


O elemento visual mais notável da capa deste livro são os feixes de luz que a adornam no meio e no lado direito, que, embora bastante psicadélicos, não têm qualquer relação discernível com a Matemática. É de destacar, também, as várias mirazinhas que estão desenhadas na metade inferior, uma das quais tem um 6 escrito lá dentro. Talvez queiram dizer que o livro contém muita precisão, mas para isso bastava uma mira grande, não?

Há, também, quatro figuras que parecem lemes. Isto surpreende-me; eu não sabia que a Matemática era um barco. Pelo menos, fico a saber por que é que os alunos sentem tanta dificuldade em governá-lo.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a imagem de uma calculadora que está perto do canto superior esquerdo. De facto, faz sentido mostrar uma calculadora num livro de Matemática, só que esta é uma calculadora básica (que ainda por cima tem aspecto de ser bastante antiga) e o livro é do 12º ano. Dadas as notas dos alunos nos exames de Matemática desse ano, no ano lectivo anterior, talvez uma imagem do HAL 9000 fosse mais adequada.

Felizmente, no meio disto tudo, há elementos que fazem sentido, nomeadamente a grelha quadriculada e os pontinhos luminosos espalhados pela capa, bem como o conjunto de linhas, do lado direito, acima do título, que parece uma régua (embora eu desconheça em que unidades está).


Segunda capa


É mesmo preciso ter um duplicado da capa na primeira página do livro? (Note-se que isto é um problema comum a todos os livros).


Introdução


Esta é a parte do livro que não diz nada de interessante, e que, por isso, ninguém lê. Os dois primeiros parágrafos não têm mesmo nada que se lhes diga, ou melhor, nada que o aluno não soubesse já ou não notasse depois de avançar para o resto do livro. Segue-se uma lista dos três temas tratados no manual - que, curiosamente, é repetida mais 3 vezes nas páginas seguintes.

A seguir, refere que o programa é descrito no início do livro. É importante referir isto. Tipicamente, o professor só faz menção do programa no fim do ano, quando vem dizer se foi todo dado ou não.

Segue-se uma escalpelização da natureza dos exercícios apresentados ao longo do livro. Essencial à compreensão dos exercícios, claro.

Depois, menciona a atenção dada à "avaliação formativa" e à auto-avaliação. Nos já sabemos, visto que temos que arcar com ela no fim de cada período lectivo. E, por fim, refere a importância da orientação do professor, sendo que a palavra vem escrita em negrito e iniciada com letra maiúscula. Note-se que a palavra "aluno" não merece esse tratamento. Isto é exactamente o oposto do que o governo teria feito, se tivesse escrito esta introdução.

(Mesmo lá no canto, refere que o texto foi escrito pelos autores do livro; mais uma vez, obrigado! É informação bastante valiosa, que até vem mencionada na capa e tudo.)


Estrutura do manual


Nesta secção, é explicado ao aluno o que são e para que servem as várias secções do livro. Claro que um aluno do 12º ano não tem aptidões suficientes para as compreender sozinho.


Programa


A pequena introdução da página 6 refere que o manual foi concebido segundo o programa de Matemática A do 12º ano. Mais uma vez, um pormenor que escaparia a qualquer aluno mais desatento. Também afirma que os novos conteúdos se "articulam" com conteúdos antigos. Isto é uma desilusão para todos aqueles que confiavam, tal como indicado pela calculadora da capa, que a matéria seria suficientemente fácil para ser compreendida sem conhecimentos prévios de Matemática.


Contracapa


A contracapa, principalmente, é uma repetição da capa, com o fundo encolhido e metido para um lado (e sem a calculadora). De maior importância é o facto de apresentar os principais pontos de marketing deste manual escolar. Uns são óbvios (adequação ao novo currículo do ensino secundário), outros são vagos (oferta de "novas perspectivas de trabalho", diversidade de situações de ensino, apoio ao desenvolvimento de competências essenciais, valorização do trabalho dos alunos e dos professores) - característica que é típica em textos de marketing -, e outros não fazem qualquer sentido (educação para a cidadania? O que é que as matérias explicadas no livro têm a ver com cidadania?).


Redundância


Só para terminar, gostaria de referir um pormenor curioso. Tirando o título na capa e na página de direitos de autor, o facto de que este livro é dedicado ao 12º ano de escolaridade é referido 11 vezes, e o de que se foca em alunos do Ensino Secundário aparece mencionado 4 vezes. Como se o aluno portador deste livro já não estivesse farto de o saber. (Pensando bem, se calhar alguns ainda não sabem.)

1 comentário:

MariaEduarda disse...

Primeiro que tudo, Parabéns pelo novo aspecto do blog! Espantoso!


E depois, não acredito que escreveste taaaaaaaanto sobre um livro escolar. Isso não é aquilo em que nem sequer se pega? xD