terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os mortos também têm direitos

De todos os objectos inanimados que existem, aqueles que são tratados com mais respeito e reverência são, sem dúvida, os cadáveres. Qualquer outro objecto, quando se estraga ou deixa de ser útil, é simplesmente atirado ao lixo sem cerimónias. Mas se se tratar de um cadáver, tem direito a ser acondicionado numa caixa, a um lugar reservado no subsolo, e a ter uma pedra com o seu nome a marcar esse lugar, completa com flores e todos os outros adereços que os visitantes se lembrem de lá deixar.

Mesmo nos casos em que os familiares são espertos e o cadáver é cremado, a situação não é famosa. Aparentemente, até as cinzas de um defunto têm que ser tratadas e armazenadas de forma condigna. Pergunto-me o que distinguirá as cinzas de um morto das cinzas resultantes da combustão da madeira, ou do papel, ou de outra matéria orgânica qualquer.

E ainda há os funerais. As pessoas, que já estão, sem dúvida, magoadas com a perda dos seus entes queridos, decidem, contra toda a racionalidade, esfregar sal nas feridas e organizar uma cerimónia com o único propósito de pôr toda a gente que for ainda mais triste (Não, os funerais não servem para honrar ninguém. Não se pode honrar uma pessoa que não existe). É das coisas mais contraproducentes que existem, desperdiçar a vida para chorar a morte.

Para quê tudo isto? Para quê todas estas mordomias concedidas aos mortos? É suposto fazer alguém feliz? Os mortos com certeza que não, visto que não têm sentimentos; e os vivos ainda menos, porque a única coisa que fazem é ficar mais tristes do que o que já estão. É tempo, espaço e dinheiro que podia e deveria ser gasto em benefício dos vivos, e não em prol de gente que já nem sequer existe.

Quantas lágrimas e sofrimento se poupariam se as pessoas fossem mais céleres a ultrapassar as suas perdas...